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domingo, 25 de abril de 2010
DOMINGO DO BOM PASTOR
Neste 4º DOMINGO DA PÁSCOA celebramos o DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES. A Igreja nos convida a contemplar a imagem viva de Cristo - Bom Pastor - que dá a vida pelas ovelhas. Ele é Bom Pastor que conhece, ama e cuida das ovelhas. Cura as que estão feridas e reconduz ao bom caminho aquelas que extraviaram.
Em tempos de lobos vestidos em peles de ovelhas, é preciso discernir a voz do Pastor. Faz-se necessário escutar a voz do Pastor que chama as ovelhas pelo nome e pede que elas sigam a sua voz.
A imagem do pastor, muito comum junto ao povo de Israel , é distante para nós. Grande parte da terminologia bíblica emprega a linguagem rural, enfocando os aspectos da vida do campo e os fenômenos da natureza. As pessoas a quem estes escritos foram originalmente dirigidos eram, em sua maioria, gente simples, de vida nômade, sempre em contato com a natureza, rodeada pela atmosfera livre dos campos.
Querendo penetrar nas riquezas do conteúdo bíblico da imagem do pastor, buscaremos conhecer mais a fundo o trabalho, as alegrias e dificuldades de um pastor, a fim de podermos entender melhor porque Jesus escolheu esta imagem para revelar a grandeza do seu amor e, consequentemente, vamos nos sentir mais comprometidos e responsáveis na missão de pastorear com Jesus e como Jesus.
Que o Senhor nos anime na busca de compreensão da missão do pastor, levando-nos a sentir a alegria e ao mesmo tempo a responsabilidade de pastorear o rebanho que Ele nos confiou.
As funções do pastor bíblico
Antes da formação literária do AT, a atribuição do título de pastor à divindade já era conhecida na cultura egípcia e na mesopotâmica. Um hino egípcio que celebra o Sol como bom pastor da humanidade, assim se expressa:
“Tu és bom para cada um, tu, pastor, que conheces a compaixão, que escutas o grito de quem te chama, que volves o coração e fazes vir a brisa”.
Estes elementos nos ajudam a entrever a riqueza da concepção teológica e da experiência espiritual dos povos do antigo oriente médio em face do deus-pastor. A originalidade de Israel supõe essas expressões das culturas vizinhas. O AT, por assim dizer, relê na Torá, nos Profetas e nos Salmos essa teologia comum aos povos da região.
No AT, o título de pastor aplicado a Javé é certamente antigo: Gn 49,24 (J); 48,15 (E), porém, raramente usado: apenas quatro vezes! Frequente é a terminologia pastoril referida a Javé, e os verbos que indicam as funções do pastor.
É como pastor que Ele vai à frente do seu rebanho (Sl 68,8), e o guia (Sl 23,3), o conduz (Is 40,11; Sl 23,2) às pastagens (Jr 50,19), aos lugares de repouso junto às fontes (Sl 23,3), o protege com o cajado (Sl 23,4), chama as ovelhas dispersas (Zc 10,8), as reúne (Is 56,8), carrega os cordeiros nas dobras de seu manto, conduz lentamente as ovelhas que amamentam (Is 40,11). Especialmente no Salmo 23, a imagem do bom pastor atribuída a Javé atinge o auge de seu significado: é a que melhor exprime o quanto Israel se sente seguro junto ao seu Deus.
a) Conduzir e providenciar alimento
No Oriente, o pastor é aquele que “caminha à frente” das ovelhas. O verdadeiro pastor é aquele para quem nenhum problema é grande demais, no que diz respeito ao cuidado pelo rebanho. É um criador que sobressai em seu amor pelo rebanho - ama todas as ovelhas por elas mesmas. Ele reconhece que as ovelhas exigem um cuidado imenso,e se for preciso, trabalha por elas as 24 horas do dia. A sua recompensa está em ver as ovelhas alimentadas, seguras, crescendo sob seus cuidados. Por isso, o pastor não poupa esforços, dificuldades e trabalhos no sentido de conduzi-las com segurança .
Os verbos conduzir e guiar, teologicamente, indicam a profunda experiência que Israel fez de ser guiado e conduzido por Deus. O núcleo dessa experiência é o Êxodo do Egito: “Conduziste com a tua misericórdia este povo que redimiste e o guiaste com tua força para a tua santa morada” (Ex 15,13).
Embora já nas tradições que se referem ao patriarca Jacó (Gn 48,15 e 49,24s) Deus apareça como guia no caminho, são contudo os Salmos que revelam toda a riqueza dessa concepção: 23; 28; 48; 77; 78; 80 . “Javé é meu pastor... Guia-me para águas tranquilas, conduz-me por caminhos de justiça por causa do seu nome” (Sl 23,2-3).
Ligada à tarefa de conduzir, outra função importante para o pastor é providenciar o alimento. Apascentar significa procurar e prover alimento(pastagens), água, enfim , encontrar os caminhos que asseguram a vida do rebanho. A nível teológico, esta função do pastor configura o conceito de providência. O Senhor é o pastor que se preocupa com a vida de seu rebanho. O Sl 23 expressa toda a confiança que o povo tem em Javé que provê: “O Senhor é meu pastor , nada me falta”.
Já na peregrinação pelo deserto, o milagre do maná e das codornizes (Ex 16,12s) é conteúdo da memória histórica de Israel. Este fato está na raiz do v. 5 do Sl 23: Israel sabe que o Senhor é quem lhe prepara uma mesa no deserto. É por isso que se sente rebanho do pasto de Javé: Sl 74,1; 79,13; 95,7; 110,3.
Nos profetas, encontramos o pastor que provê em Is 14,30; 49,9-10; Ez 34,14s; Sf 2,7. “Apascentá-las-ei em um bom pasto. Sobre os altos montes de Israel terão as suas pastagens.Aí repousarão em um bom pasto e encontrarão forragem rica sobre os montes de Israel”(Ez 34,14s).
As ovelhas são, reconhecidamente, criaturas que observam hábitos. Se entregues a si mesmas, seguirão sempre os mesmos caminhos até que estes se tornem gastos. Pastam nas mesmas colinas até que elas fiquem destituídas de vegetação e infestadas de parasitas , de todos os tipos. O resultado final é que tanto a terra se torna imprestável, como o proprietário fica arruinado e o rebanho magro e doente. O melhor recurso de que o pastor pode lançar mão na criação das ovelhas é mudar sempre de pasto. Essa medida evita que o capim seja destruído por pastarem demasiadamente. Evita também que a formação de sulcos nos trilhos por onde caminham sempre, cause erosão da terra, pelo excesso de uso. Ademais, previne a recontaminação das ovelhas pelos seus próprios vermes e enfermidades, já que elas se mudam dos terrenos poluídos antes que esses organismos completem seu ciclo de vida.
O Senhor é o pastor que me conduz, nada me falta!
As ovelhas se desenvolvem bem em terrenos secos e semi-áridos, porém elas precisam de água. O organismo de uma ovelha tem 70% de água, em média. A água , portanto, determina a vitalidade, a força e o vigor da ovelha, sendo essencial ao seu bem estar geral e saúde. Se o suprimento de água para o animal diminui, começa a desidratação, que pode implicar em que o animal fique fraco e debilitado.
Através da sede, o animal indica a necessidade que o organismo está sentindo de água, a ser suprida por uma fonte externa. Quando as ovelhas estão sedentas, tornam-se inquietas, e partem à procura de água para se satisfazerem. Se não forem conduzidas às verdadeiras fontes, muitas vezes acabarão abeberando-se em poças poluídas, onde contraem vermes causadores de doenças. Daí a função do pastor de providenciar a água pura para o rebanho.
Para as águas tranquilas me conduz e restaura as minhas forças!
Outro modo da ovelha receber a água pura acontece através da relva orvalhada. Quando não faz muito calor, as ovelhas podem passar meses a fio quase sem beber água, desde que ela coma relva orvalhada da manhã. As ovelhas têm o hábito de despertar bem cedo e começar a pastar. E quando o luar está claro, pastam à noite. Nas primeiras horas do dia, a vegetação ainda está coberta de orvalho, e o rebanho se mantém com a quantidade de líquido ingerida juntamente com a relva, quando pasta antes do amanhecer.
Naturalmente, o orvalho é fonte de água pura e limpa. E não há ilustração mais resplendente das águas tranquilas do que as gotinhas prateadas de umidade pesando nas folhas e na relva, ao nascer do dia.
O bom pastor, o criador dedicado, providencia para que seu rebanho saia logo cedo, e vá pastar nesta relva molhada de orvalho. Talvez isso signifique que ele próprio tenha que levantar-se também para sair com elas. Seja no pasto da fazenda ou nas pastagens das montanhas, ele deve cuidar para que suas ovelhas comecem a pastar cedo.
Os países possuidores dos maiores rebanhos de ovinos localizam-se em regiões áridas e semi-áridas. A maioria das raças de ovelhas prospera melhor nesse tipo de terreno. Nesses lugares onde o clima é seco, elas se acham menos expostas a problemas de saúde e a parasitas. Mas nestas regiões, também , não é natural nem comum encontrarem-se pastos verdejantes. Na Palestina, por exemplo, a terra é seca, estéril e desértica.
Os pastos verdejantes não surgiam como que por encanto. Resultavam de um labor intenso, mais o emprego de tempo e habilidades no lavrar a terra. Tinham que limpar o solo árido e áspero; arrancar espinheiros, raízes e tocos de árvore; arar profundamente e preparar o solo; semear e plantar grãos e ervas especiais; irrigar e cuidar das plantações de forragem que iriam servir para alimentar o rebanho.
Tudo isso implicava em muito trabalho bem como no emprego de tempo por parte do pastor diligente. Se ele quisesse que as ovelhas desfrutassem de pastos verdejantes por entre as colinas ressequidas e estéreis, teria que trabalhar muito.
Mas para haver sucesso na criação de ovelhas, é essencial que se tenha pastos verdejantes. Quando os cordeiros estão crescendo e as fêmeas precisam de relva verde e suculenta para produzir um leite gordo, nada substitui o pasto. Nenhum espetáculo é mais grato ao coração do criador do que ver seu rebanho, depois de bem alimentado até a satisfação plena, deitar-se para descansar e ruminar e se desenvolver.
Um fato estranho com relação às ovelhas é que, por sua própria constituição, é quase impossível repousarem se não lhes forem satisfeitas quatro condições.
. Devido à sua timidez, elas se recusam a deitar-se a não ser que estejam plenamente tranquilos e sem temores.
. Por causa de seu comportamento social, no grupo do rebanho, não se deitam enquanto houver quaisquer atritos com outras ovelhas.
. Se estiverem sendo importunadas por moscas e parasitas, também não se deitarão. Só conseguem relaxar quando estão livres dos insetos.
. Por último, as ovelhas não se deitam enquanto estiverem com fome. Precisam estar bem alimentadas para fazê-lo.
Somente a presença do pastor pode proporcionar-lhes esta tranquilidade, livrando-as de suas ansiedades, a fim de que possam repousar em pastos verdejantes.
Em verdes pastagens, Ele me faz repousar!
Tudo isso o Senhor realiza por nós. Dizer que o Senhor é o pastor que me conduz nos bons caminhos e para as águas tranquilas, é deixar-se orientar por Ele, sentir-se objeto de seu interesse e cuidado intenso, é sentir-se membro do seu rebanho, ser da sua propriedade. Agora, dizer que eu sou pastor com o Senhor é uma grande responsabilidade, pois devo conduzir pelos bons caminhos e para as águas tranquilas o povo de minha paróquia, que o Senhor que confiou. Num rebanho, a sorte de uma ovelha, de um cordeiro, depende grandemente do tipo de pessoa que é o seu pastor. Pois, o verdadeiro pastor deve se empenhar constantemente pelo rebanho, se quer que ele cresça e se desenvolva. As ovelhas não cuidam de si mesmas, como supõem alguns. Mais que qualquer outro tipo de criação, elas exigem atenções infindas e cuidados meticulosos. O rebanho que o Senhor me confiou, pode se dizer um rebanho de sorte porque eu sou o pastor, que representa o próprio Deus e que se dedica pelo seu crescimento?
Não foi por acaso que Deus resolveu chamar-nos de seus cordeiros e ovelhas. O comportamento do ser humano é semelhante ao do rebanho sob muitos aspectos, como temores, timidez, teimosia, insensatez, insegurança, hábitos perversos. Apesar de todas essas características, que temos em maior ou menor escala, o Deus-Pastor nos ama, nos chama pelo nome, nos torna sua propriedade, se alegra em cuidar de nós e nos convida a ser pastores com Ele.
b) Vigiar, defender, libertar do perigo
Estes verbos refletem a segunda característica marcante da ação do pastor. “De dia, o pastor é guia. De noite, guarda. Enquanto as ovelhas dormem, ele vigia”.
Esta função de defesa e proteção diante do perigo se amplia quando acontece de alguma ovelha se perder: o pastor volta e vai seguindo o seu rastro, chamando até encontrá-la. No plano teológico, a imagem de Deus guarda e defensor se afirma como “aquele que não dorme nem cochila”, vigilante para que nenhum perigo ponha em risco a segurança de seu povo.
Neste sentido, a Bíblia apresenta uma originalidade perante as concepções religiosas do Egito e da Mesopotâmia. Javé é o pastor que não somente reúne o seu rebanho (no Egito, as ovelhas estão presentes ao Deus que das alturas atinge a todos com os seus raios, que são suas mãos: neste sentido, ele as reúne), Javé procura. Especialmente no cap. 34 de Ezequiel, todo ele dedicado ao tema do pastoreio, uma das acusações aos maus pastores de Israel é esta: “Não procurastes a ovelha perdida”. Javé, ao contrário, envolve-se pessoalmente, desce, não permite que o rebanho se disperse. “Irei à procura da ovelha perdida” (v.16).
Além de procurar, e de procurar até encontrar (Ez 34,11), Javé é aquele que liberta, que tira as ovelhas extraviadas dos lugares de dispersão e de escravidão.
Jr 23,3 tem diante dos olhos a dispersão do povo, causada pela irresponsabilidade e pela ineficiência dos últimos reis de Judá, que causaram a derrota e deportação para a Babilônia. Por isso, não se trata mais de tirar o povo da escravidão do Egito, mas de tirá-lo da dispersão em que se encontra. Não é possível contar com os guias políticos e religiosos. É o Senhor mesmo que intervirá para realizar um novo Êxodo: “Eis que os trago do país do Norte, reúno-os dos confins da terra” (Jr 31,8).
Esta ação congregadora tem em vista salvar o rebanho, cume do processo de libertação: “Em seus dias, Judá será salvo e Israel habitará em segurança”(Jr 23,6a).
Também o Sl 121, através da imagem do Deus-guarda, salienta esta dimensão do sentir-se seguro junto de Javé:
“Não te deixará tropeçar, o teu guarda jamais dormirá! Sim, não dorme nem cochila o guarda de Israel. Javé é teu guarda... Javé te guarda de todo mal, Ele guarda a tua vida.
Javé guarda a tua partida e chegada, desde agora e para sempre”(vv.3-8). Nesta tarefa de vigiar, defender e libertar do perigo, o pastor enfrenta dificuldades, pois as ovelhas são caracterizadas como animais muito medrosos, que se assustam com facilidade. Até um coelho, que salta de repente por detrás de uma moita, pode provocar um estouro do rebanho. Quando uma ovelha assustada dispara a correr, dezenas de outras ovelhas saltarão com ela, num terror cego, sem procurar ver o que provocou o susto. Por isto, o que mais tranquiliza o rebanho é ver o pastor no campo. Ele é quem proporciona as condições adequadas para as ovelhas descansarem com segurança, através de sua presença.
O verão é a época em que as ovelhas são tiradas do aprisco e conduzidas aos pastos verdejantes, às aguas tranquilas, pelos vales das montanhas até aos pastos do planalto. Contudo, nesta época também podem surgir perturbações, pois é no verão que as ovelhas são atacadas por moscas e carrapatos, que podem lhes trazer infecções e sarna. Os pequeninos insetos ficam a voejar ao redor da cabeça da ovelha tentando depositar os ovos na mucosa úmida da narina do animal. Se isto acontece, provoca uma irritação intensa, acompanhada de inflamação, podendo levar a ovelha à cegueira. Quando atormentadas por insetos, as ovelhas ficam sempre em pé, sacudindo as pernas, abanando a cabeça, sempre querendo correr em busca de alívio.Somente uma atenção constante, por parte do pastor, para o comportamento dos animais pode prevenir as dificuldades que surgem nesta época de moscas. Ele deve aplicar um antídoto na cabeça do animal, feito de óleo de linhaça, sulfa e alcatrão, a fim de defendê-lo da infecção. Essa providência opera uma transformação nos animais, trazendo uma mudança imediata em seu comportamento. Desaparecem a importunação, inquietação, a irritabilidade e o desassossego.
O verão, para as ovelhas, não é apenas a época de moscas, mass também de sarna, causada por um parasita pequenino, microscópico, que prolifera na época do calor, e espalha pelo grupo, passando de um animal infectado para outro. Nesse caso, também, como no das moscas, o único remédio eficaz é a aplicação, em todo o corpo do animal, do óleo de linhaça com sulfa e outras substâncias químicas que podem contralar essa alergia. Cada animal deve ser coberto por essa solução especial, de modo que todo o corpo fique bem molhado. A parte mais difícil é a cabeça, que deverá ser mergulhada diversas vezes, assegurando-se de que a sarna foi eliminada. Muitos pastores têm grande cuidado, e fazem o tratamento da cabeça à mão.
Unges-me a cabeça com óleo...
Outro fato que dificulta a vida do pastor está na tensão, rivalidade e disputa dentro do próprio rebanho. Em geral uma ovelha mais velha e dominadora se arvora em líder do grupo das ovelhas. Ela mantém sua posição de prestígio com marradas, isto é, empurrões com a cabeça e com os ombros, expulsando as outras das melhores partes dos pastos ou de um recanto predileto. Sucedendo a essa ovelha numa ordem precisa, seguem-se os outros animais, todos estabelecendo e mantendo uma posição exata no rebanho pelo emprego das marradas e empurrões, contra aquelas que se acham abaixo ou são mais fracas e menores.
Este mecanismo é retratado de forma viva em Ez 34, 20-21: “Assim diz o Senhor Javé: vou me colocar como juiz entre a ovelha gorda e a ovelha magra. Com as ancas e os ombros, vocês empurram as ovelhas mais fracas e ainda lhes dão chifradas, até expulsá-las para longe”.
Por causa deste senso de rivalidade e competição pela posição melhor, existe o conflito no rebanho, que impede às ovelhas de repousarem tranquilamente. Mas quando o pastor aparece, o rebanho nota a sua presença, esquece a rivalidade e pára de lutar.
Esta realidade também pode ser aplicada à nossa vida paroquial e presbiteral. Quanta competição, desentendimento e busca de prestígio existe entre nossos paroquianos? Quantas vezes vivemos a rivalidade buscando uma posição melhor, mais cômoda e tranquila, querendo sobressair sobre os outros, julgando-nos melhores que os outros? Sem o perceber, acabamos assumindo a mentalidade e as atitudes competitivas do mundo, caindo nas malhas da busca do poder, para ter e viver em prazer.
Neste rebanho onde Cristo é o Pastor e nós somos membros do seu rebanho, somente a busca sincera de conversão a Ele e ao seu Evangelho, pode nos dar a segurança e nos fazer viver em unidade.
Neste rebanho, com Cristo, nós somos chamados a ser pastores. Por isso, também nós devemos ouvir com atenção aquilo que o próprio Deus fala aos pastores em Ez 34, procurando analisar a nossa conduta, reconhecendo nossas falhas e buscando uma sincera conversão.
Neste relato de Ez 34 , as críticas são dirigidas aos maus pastores. O mau pastor é aquele que julga que as ovelhas não precisam de cuidados, que é suficiente colocá-las no pasto, pois elas pastam por conta própria, como queiram. Isso torna as ovelhas presa fácil de lobos, onças e cães. O mau pastor não se importa em providenciar abrigos para protegê-las nas tempestades, nem se preocupa se elas têm que mascar relva seca no inverno, ou por estarem bebendo água poluída e barrenta. Tudo isso deixa as ovelhas doentes e fracas. Porque é mau pastor, ele ignora a carência de suas ovelhas e até sorri porque elas estão destinadas ao matadouro e não precisam de muita atenção.
São palavras muito duras e diretas dirigidas a esses maus pastores e que hoje devem servir para nós de exame de consciência sobre a nossa missão de pastorear com Cristo. Ouçamos o que o Senhor nos diz em Ez 34, 1-10.
Santo Agostinho referindo-se aos mercenários, maus pastores, tem palavras não menos duras que o profeta Ezequiel, quando diz: “existem alguns na Igreja que foram revestidos de autoridade, dos quais o apóstolo Paulo fala: buscam os próprios interesses e não os de Cristo (Fl 2,21). O que quer dizer: buscam os próprios interesses? Quer dizer que o seu amor por Cristo não é desinteressado, não buscam a Deus por Deus; buscam vantagens e comodidade temporal, são ávidos de dinheiro, desejam as honras terrenas. Estes, que amam tais coisas e por elas servem a Deus, são os mercenários; não podem se considerar filhos”. (Tratado sobre João 46,5s).
Que estas duras palavras de Ezequiel e Agostinho não venham nos amedrontar, mas nos ajudar na conscientização de nossas fraquezas e omissões pastorais, despertando nova luz para a realidade do pecado, que é sempre um convite à conversão e à acolhida da misericórdia.
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